![]() |
|
Uma carta confidencial de 1924 |
|
Carta redigida por Vazulmiro Dutra em 1924, para Borges de Medeiros. |

A Revolução de 1923 deixou marcas em todo o Rio Grande do Sul. Em Palmeira das Missões, algumas destas marcas são eventos históricos, como a tentativa de tomada da cidade pelo líder maragato Leonel Rocha; outras marcas são físicas, como o Monumento aos Maragatinhos, tombados naquela batalha de 4 de junho em que Leonel Rocha auxiliado por Menna Barreto, Serafim de Moura Assis e Josino Eleutério dos Santos atacam a Vila de Palmeira com uma tropa de cerca de 300 combatentes, os quais, após violenta batalha, foram repelidos por Vazulmiro Dutra e o Terceiro Corpo Provisório.
Os conflitos de 23, no contexto palmeirense, entretanto, não duraram apenas um ano. Alimentados por tensões próprias, esta revolução tem aqui em 1923, apenas seu ápice. Os embates, sempre político-partidários (com um aspecto social trazido por Leonel Rocha – muito raro, talvez inédito na história rio-grandense), iniciaram antes e findaram depois de 23. Exemplo disso é a carta redigida por Vazulmiro Dutra em 1924, para Borges de Medeiros em defesa da manutenção das funções Dr. Frederico Westphalen, a qual, entre seu objetivo principal, evidenciou a continuação do conflito político-partidário-militar.
Assim, temos:
Palmeira, 23 de dezembro de 1924
Exmo. Sr. Dr. A. A. Borges de Medeiros
Minhas respeitosas saudações. Voltando de Tesouras, onde estive aguardando provável saída de Leonel Rocha, perseguido por esquadrões do 3º corpo de Sarandy para cá e, enquanto desço a Fortaleza, a fim de ocupar nova posição aconselhada pela direção que vem tomando o inimigo, chego a esta Vila, momentaneamente, aqui encontrando a notícia de ter sido dispensado da chefia da Comissão de Terras, por determinação do Dr. Secretário da Fazenda, o Dr. Frederico Westphalen.
Sem pretender discutir esse ato e bem menos as razões que o determinaram, sou, contudo, levado pelo coração a interceder junto à V. Ex.ª no sentido de ser ele revogado, caso seja isso possível.
Poderia, também, pedi-lo com razão de ordem política; V. Ex.ª, porém é chefe e, melhor que qualquer outro, saberá avaliar das vantagens e inconveniências dessa natureza. Cumpri-me, todavia, afirmar à V. Ex.ª que a consolidação da situação política neste Município, que tantos sacrifícios vem custando as nossos correligionários e incômodos à V. Exa. sofrerá com isso inevitáveis consequências, porque o Dr. Frederico, obrigado por circunstâncias imperiosas, não poderá talvez manter-se à testa de seu governo e chefia, postos que vem servindo com alto critério e notável desprendimento pessoal.
[...]
Queria V. Ex.ª perdoar-me da liberdade que tomo em dirigir-me a presente, o que faço sem consentimento do Dr. Frederico. Sou, como já disso, levado pelo coração. Espero da excelsa bondade de V. Ex.ª ver atendido o meu pedido, com que se alguma coisa ser feita em prol da causa de que V. Ex.ªª é o máximo expoente, ficarei pago e satisfeito.
Sem outro motivo, peço vênia para subscrever-me.
De V. Exª.
Altº. Amº. Obgº. e Adm.
Vazulmiro P. Dutra
Fonte do documento: Arquivo do Instituto Histórico Geográfico Do RGS. Fundo Borges de Medeiros.
OBS: Tesouras: atual município de Chapada; Fortaleza: atual município de Seberi.